Famílias ribeirinhas de rio na região da Chapada Diamantina sofrem com a falta de água e pedem socorro

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Rio Utinga.

A grande concentração de monoculturas nos municípios de Utinga e Wagner, na Bahia, tem diminuído a vazão da água do rio Utinga e tem causado a falta de água nas comunidades ribeirinhas. O rio nasce na comunidade de Cabeceira do Rio, na cidade de Utinga e corta os municípios de Wagner, Lajedinho, Lençóis e Andaraí, e deságua no rio Santo Antônio, no Pantanal Marimbus.

De acordo com informações de moradores da Comunidade de São José e Assentamento Padre Cícero, em Lençóis, o rio nunca havia secado totalmente antes.  A primeira vez foi no ano de 2015, e desde então, o volume da água do rio ficou descontrolado, e, consequentemente, tem afetado os pequenos produtores que tiram seu sustento do rio.

Lagoa no Assentamento Padre Cícero, Lençóis (BA), que recebe água do rio Utinga.

No Padre Cícero, por exemplo, existe uma lagoa que também tem sofrido com esse problema do rio Utinga. Há cerca de dez meses, os moradores desenvolvem a piscicultura com diversas espécies de peixes: Tilápia, Tambaqui, Carpa, entre outros, mas a falta d’água tem causado a morte desses animais. Esse é um rio importante, pois além de alimentar diversas famílias que habitam as comunidades ribeirinhas, ele  também abastece os municípios por onde passa e é um dos principais afluentes da bacia hidrográfica do rio Paraguaçu.   

A seguir, a denúncia e o clamor de uma jovem moradora do Assentamento Padre Cícero, Silvaneide Nogueira Santos, sobre a situação do rio nas duas comunidades:

O rio Utinga está novamente pedindo socorro, para que os “demais” tenham o mínimo de consciência sobre seus atos, até por que não é só uma ou duas pessoas que necessitam das águas que vem dele. O rio Utinga nasce na Cabeceira do Rio, no município de Utinga, e corta também os municípios de Wagner, Lajedinho, Lençóis e deságua no rio Santo Antônio, no Pantanal Marimbus, em Andaraí-BA. Todos esses municípios tem pequenos agricultores que tiram seu sustento de suas plantações, mas para isso é necessário que o rio não diminua sua vazão. Existem barragens que seguram praticamente toda a água impedindo que ela chegue até os povos ribeirinhos.

No rio Utinga existe o uso excessivo da água, sobretudo pelos produtores do agronegócio, o que traz grandes consequências, como a diminuição do volume d’água, pois além das barragens, foram feitos vários desvios na Cabeceira do rio. Há um aumento cada vez maior de plantações de banana, o que consome bastante água, pois os produtores utilizam várias bombas, algumas com 90 cavalos, inclusive em partes do rio a água nem corre mais, fica girando em torno das bombas.

O agronegócio vem tomando conta de “tudo”. Quem são essas pessoas? Produtores com suas grandes extensões de terra. Quem são as pessoas que protestam sobre o mau uso da água do rio Utinga? Somos nós, pequenos agricultores que necessitam da água para a sobrevivência. Não queremos que o agronegócio cresça mais, queremos que os produtores tenham consciência e sempre pensem nas pessoas que estão abaixo da cabeceira do rio, até porque somos seres humanos, assim como eles.

Só estamos lutando para termos uma vida digna, sem roubar ou matar, mas também não queremos morrer por falta de água. No assentamento Padre Cícero e no povoado São José temos pessoas que afirmam que o rio não havia secado antes, e que a primeira vez foi no ano de 2015.

Fonte: Comissão Pastoral da Terra(CPT), Regional Bahia.