Plenarinhos movimentam o segundo dia da 42ª Romaria em Bom Jesus da Lapa

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IMG_1499-1024x683No início da manhã deste sábado (6), romeiros e romeiras acordaram cedo para acompanhar o Ofício de Nossa Senhora, logo após, em caminhada, seguiram para os plenarinhos da 42ª Romaria da Terra e das Águas. Esse é um espaço de debate sobre os atuais desafios políticos e sociais que vivemos. São cinco plenarinhos com os temas centrais: Terra; Fé e Política; Crianças; Juventude; e Rio São Francisco e outras Bacias.

Acompanhe a seguir uma síntese do encontro de cada plenarinho:

Rio São Francisco e outras Bacias: “Brumadinho pergunta: quem manda na Bacia do Rio São Francisco?”.

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“É o povo!!” assim responderam os romeiros e romeiras ao questionamento do plenarinho sobre a bacia do rio São Francisco. O crime da Vale em Brumadinho foi um dos principais temas de discussão. Exposto em toda a Igreja do Bom Jesus dos Navegantes, fotos e relatos das vítimas do crime do córrego do feijão e uma arte representando um rio atingido por um projeto de morte, da lama que apagou toda uma história e vidas, ornamentou o cenário.

Ione Rochael – MAM

Os impactos negativos não foram só no meio ambiente, mas também daqueles que dependiam do rio Paraopeba, como ribeirinhos, produtores rurais, entre outros. Segundo Ione Rochael do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), hoje muitos sofrem com a depressão (com a retirada da população de seu território) e o racismo ambiental e econômico, ao tentar vender seus produtos em feiras locais. “Ninguém quer comprar a produção do povo alegando estar contaminada. Não podemos deixar que nossas águas e nossas vidas sejam privatizadas”, completou.

Além de Brumadinho, os participantes reforçaram a necessidade de retomar e fortalecer a articulação do São Francisco Vivo e compartilharam experiências do Encontro de Bacias que aconteceu no mês de junho, em Januária (MG). Ruben Siqueira, coordenador deste plenarinho, falou sobre a importância de se apegar a fé, como assim dizia Conselheiro “Só Deus é grande”. Ainda enfatizou que assim como na época de Canudos, quando o povo enfrentou o exército, hoje o povo precisa se manter organizado na luta para garantir a vida. “No decorrer da história todas as vitórias vieram pela luta, nada foi de graça”, disse.

Terra e território: direito do povo e dever do Estado.

Este plenarinho teve início com a homenagem à Professora Maria Rodrigues Inês, falecida em 2018, que lutava por justiça e pelo direito ao território dos ribeirinhos, no munícipio de Barra (BA). Em seguida, Rosivaldo Alves da Cunha, geraizeiro da comunidade Cachoeira, em Formosa do Rio Preto (BA), compartilhou sua experiência de luta e resistência aos conflitos que historicamente vive a comunidade.

A Associação dos Advogados dos/as Trabalhadores/as Rurais (AATR) assessorou a discussão sobre posse, propriedade e direitos dos povos e Comunidades Tradicionais, e apresentou o filme “Sertão Serrado”, destacando a fundamental importância do Cerrado para todo o país, as graves ameaças e violações que ocorrem há anos, além da resistência desses grupos, e reafirmar seus modos de vida e o papel na defesa dos biomas.

“Toda criança tem o direito de ser feliz” – (Inspiração Bíblica: Deixai vir a mim as criancinhas – MT 19, 14).

“Mas todas as crianças são felizes?”, perguntou Alberto dos Santos, coordenador do plenarinho, ao apresentar para os participantes o tema e a inspiração bíblica do mesmo. As crianças aprenderam sobre alguns dos direitos delas a partir de uma explicação lúdica aliada a apresentação de trechos do filme “Território do Brincar” e do curta metragem “Vida Maria”.

Com brincadeiras, muita música e oração, os pequenos ainda refletiram sobre ser criança, brincar e estudar, e que mesmo com a influência da mídia com brinquedos novos e modernos, o importante é usar a imaginação com o que estiver disponível. “Certos valores que aprendemos em nossa infância devem ser desconstruídos para que ideias como o de que a cozinha é um espaço só da mulher, não seja levado adiante”, completou Alberto dos Santos.

Fé e Política: Políticas Públicas: nenhum direito a menos.

Irmã Teresinha Foppa recebendo a homenagem.

Romeiros e romeiras refletiram sobre a atual conjuntura política, compartilhando suas experiências sobre o acesso às políticas públicas, que apesar de existirem, ainda são negadas a aqueles que não tem o conhecimento sobre seus direitos. Nos relatos deste plenarinho ficou evidente que a luta e organização coletiva são importantes para a garantia dos direitos já conquistados.

Em sua fala, Dom André de Witte, Bispo de Ruy Barbosa, ressaltou que o papel da Igreja é estar a serviço do povo e na luta com o povo dentro das suas realidades. A homenageada deste plenarinho foi a Irmã Teresinha Foppa, como forma de agradecimento a toda uma vida de luta doada aos camponeses e camponesas.

Via Sacra

À tarde, em caminhada, os romeiros e romeiras participaram da Via Sacra, que teve início na Esplanada composta por três momentos: a 1ª estação, a condenação de Jesus, houve a participação de um trabalhador que relatou as ameaças e a violência que sofrem os camponeses do Alto do rio Preto por parte de capangas e da própria polícia. A fazenda estrondo, que está próxima a área do rio se apropria de 444 mil hectares, desmata o chapadão, avança sobre o Vale do Rio Preto, área de uso coletivo das comunidades. “Será que tem justiça pra gente?”, questionou no final de sua fala trabalhador.

Na 2ª, a morte do rio São Francisco, a ambientalista Ione Rochael falou sobre o crime de Brumadinho e da sua crueldade. “A vida e os rios não valem nada para as mineradoras na busca desenfreada por lucro”, disse.  O rio Parauapebas morto e não há como recuperar, e vai desaguar no rio São Francisco. Na 3ª e última estação, sinais de ressurreição, em frente à Igreja do Bom Jesus dos Navegantes, houve a memória do povo de Correntina, em defesa do rio Corrente com a mensagem: “Ninguém vai morrer de sede às margens dos rios do oeste”. Integrantes das comunidades de João da Roca e Cachoeira do Brejo, de Caetité, também se manifestaram contra o projeto de mineração da construção de uma barragem de rejeitos nas nascentes pela Bahia Mineração.

Dom Luís deu a bênção final e ressaltou que a Via Sacra é acompanhar o Bom Jesus para o calvário meditando todo o seu sofrimento e toda a sua dor. “A Via Sacra se conclui com a ressurreição de Jesus e ela está na luta de um povo unido para vencer todas suas dificuldades”, disse. Texto e fotos: Equipe Comunicação CPT BA.

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