Mulheres são as mais afetadas pela barragem de Mariana, diz pesquisa

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Foram quase três anos de luta para a trabalhadora rural Maria José Carneiro, de 32 anos, ter reconhecida a perda de renda provocada pelo rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, a 110 km de Belo Horizonte, em novembro de 2015. Ela é uma das mulheres que, segundo uma pesquisa da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), representam o grupo mais afetado pela tragédia.

A psicóloga Débora Diana da Rosa, do grupo de pesquisas Conexões e Saberes, investigou o impacto do estouro da barragem na vida das moradoras da região durante dois anos e meio. Segundo ela, além da perda de amigos, familiares e das casas, as mulheres dos distritos atingidos tiveram que lidar com outros problemas.

— Elas foram extremamente vitimizadas na negação de direitos de reparação. Algumas trabalhadoras informais perderam a fonte de renda e tiveram dificuldade em provar a situação.

Débora destaca que, nestes casos, as mulheres ficaram dependentes economicamente dos maridos. Para a pesquisadora, o controle financeiro também é viabilizado pelo fato de eles ficarem responsáveis pelos cartões de repasses fornecidos pelas empresas donas da barragem.

Maria José trabalhava em uma fazenda que foi cercada pela lama de rejeitos. Com isso, a produção no local foi interrompida e, a demissão, inevitável. Com medo de perder direitos trabalhistas, a produtora rural negociou com o patrão de manter a carteira assinada sem ela receber o pagamento até que conseguisse receber os benefícios que tinha direito. Contudo, a espera foi maior do que ela imaginava.

— Eu expliquei toda situação para a Fundação Renova, ainda assim eles negaram os meus pedidos. Só no final do ano passado, a equipe disse que, para provar tudo, o meu ex-patrão teria que ir lá explicar o que houve. Só assim consegui ter meu direito reconhecido.

Além de lutar para receber o repasse de um salário mínimo da Renova – fundação criada para reparar os danos da tragédia – Maria José, que está desempregada, divide as atividades de casa na defesa de outros direitos para as vítimas da tragédia. Segundo a psicóloga Débora Rosa, essa situação provocou uma sobrecarga, principalmente, para as mulheres.

— Elas ficaram sobrecarregadas porque se tornaram responsáveis pelas crianças e adultos que se adoeceram, além de ter que atender às demandas das reuniões de negociações. Elas são mais presentes do que os homens. Essas mulheres entendem a importância da luta, mas sentem o peso da responsabilidade.

Rompimento
A barragem de Fundão, da mineradora Samarco, rompeu no dia 5 de novembro de 2015. O caso é considerado a maior tragédia ambiental do Brasil. Foram 62 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro despejados no meio ambiente. A lama atingiu o rio Doce e chegou até o oceano Atlântico, no Espírito Santo.

Dezenove pessoas morreram, sendo que um corpo não foi encontrado até hoje. No total, 362 famílias dos distritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Gesteira ficaram desabrigadas e foram realocadas em casas alugadas pela Samarco.

A previsão da Fundação Renova é de que as casas dos moradores de Bento Rodrigues fiquem prontas em 2020.

Outro lado
Em nota, a Fundação Renova diz que pauta seu trabalho pelo respeito aos direitos humanos, sem tolerar qualquer tipo de discriminação e que paga os mesmos valores a mulheres ou homens que tenham sofrido os mesmos danos.

Confira a nota, na íntegra:
A Fundação ressalta que pauta seu trabalho pelo respeito aos direitos humanos de todas as pessoas com as quais se relaciona, sem tolerar qualquer tipo de discriminação por origem, raça, cor, gênero, idade, orientação sexual, religião ou opinião política, entre outros, em seus programas, projetos e ações. O tratamento igualitário e isonômico às pessoas e suas ocupações é um dos princípios norteadores das políticas de indenização. Dessa forma, os valores pagos a uma agricultora que tenha tido sua atividade econômica impactada são os mesmos destinados a um agricultor que tenha sofrido os mesmos danos em extensão e intensidade.

Contudo, ciente de que a desigualdade de gênero ainda é uma realidade estrutural na sociedade brasileira, conforme apontado por diversos estudos, pesquisas e estatísticas oficiais, a Fundação entende que é importante a construção de políticas afirmativas sobre esse tema. A implantação do TAC Governança, em agosto de 2018, que inclui a participação de atingidos nos processos decisórios, possibilita a ampliação deste debate com a participação social das mulheres nesse processo, via comissões locais e assessorias técnicas, que serão escolhidas pelas comunidades. A Fundação está aberta ao diálogo e reitera o seu compromisso na construção de medidas que contribuam para a promoção da afirmação de gênero no âmbito do processo de reparação.

Com informações do Portal R7.