“É preciso conhecer para respeitar”: I Parada do Orgulho LGBT de Bom Jesus da Lapa reúne centenas de pessoas.

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Depois de tantos comentários nas redes sociais, contra e a favor do evento. Aconteceu no fim da tarde deste domingo (21), o primeiro evento promovido na região com as cores do arco-íris, a I Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) de Bom Jesus da Lapa, com o tema, “É preciso conhecer para respeitar”.

Aproximadamente quatro mil pessoas participaram do evento, e mais de 70% dos participantes heterossexuais, segundo os organizadores. “O evento aconteceu sem nenhum patrocínio ou apoio financeiro, foi pensado e organizado  pelo Grupo Diversidade do Sertão Baiano – GDSB. Conseguimos quebrar muitos tabus, preconceitos e o importante que não identificamos nem uma ocorrência policial ou brigas”, afirmou Gleidson, organizador do evento.

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Um trio elétrico animou a multidão, onde vários participantes deram seus depoimentos, chamando a atenção da população lapense para a situação. Muitos observavam nas janelas dos prédios e nas portas das casas. “Eu não quero morrer porque sou gay, eu não quero usar droga, eu só quero ser feliz. Respeite o que sou, eu peço, não nos olhem como se não fossemos gente”, disse um dos participante no trio.

A organização disse que o grupo pediu ajuda nos comércios,  tentou patrocínio, todos falaram não. “Parem de preconceito, não iremos corromper ninguém. Mesmo assim, obrigado aos comerciantes. Nós estamos aqui, em luta por igualdade”.

“Saia da frente com o seu ódio que eu quero passar com amor. Por que tanta raiva da gente? Eu não tenho culpa de ser assim, também tenho família, também tenho direitos, pago imposto, cumpro meu papel de cidadão. Não me julgue pelo que sou”, falou outro integrante.

Dona Sandra, empresária, ficou observando na calçada.”Estou aqui desde mais cedo, querendo ver, fiquei curiosa, não defendo esse tipo de coisa, mais não aguentei e vim olhar.  Não defendo, mais também não condeno ninguém, cada um tem o direito de ser o que sente. Muita gente é contra mais quer ver. Muitos homens mais cedo passavam de carro ai perto, tiravam foto e saiam rindo, outros se tivesse como falaria algo. Difícil ver a postura das pessoas, ninguém é obrigado defender, tem sua opinião, agora não da para defender esse comportamento, esse  tipo de coisa. Todos pensamos diferente, isso não  quer dizemos que podemos viver em paz”, disse.

De acordo a professora do Instituto Federal da Bahia de Bom Jesus da Lapa, Fabiana, presente no evento, a sociedade precisa discutir esse assunto e destacou os desafios e a importância desse primeiro ato no município.  “Não acredito que a Parada Gay consiga quebrar o preconceito e nem acredito ser o objetivo dela. Ainda falta muito debate, um entendimento da profundidade que requer a causa, porém o ato político de ir as ruas lutar pela liberdade de expressão e respeito já é um ganho imenso e já abre a possibilidade do debate acontecer para poder aí sim diminuir o preconceito que é tão grande e tão ameaçador. Acredito que o maior desafio foi manter o evento, fazer ele acontecer. Os desafios e empecilhos devem ter sido muitos, mas a persistência de manter o evento já foi uma grande vitória é uma grande lição. A luta pela causa dele prevalecer, porque quando se acredita no que se luta, todo esforço é recompensador”.

Frisou a importância do papel do educador nesse debate.  “Ouvir e dar voz. O papel do educador é colocar o desigual na condição de igual, é promover espaços de debate, discussão, vivências e trocas. Só podemos compreender a dor, a luta e a causa do outro quando nos colocamos no lugar do outro, por meio do debate, do ouvir, do entender. Não há como eu falar da dor do outro, temos que dar voz para ele falar e daí ter a compreensão. Ainda falamos pouco sobre sexualidade. O debate está muito aquém do que é necessário. A transexualidade, o debate de gênero e o respeito as diferenças precisa ser colocado em pauta a todo momento porque é uma realidade da sociedade contemporânea”, disse.

“A parada gay aqui de Bom Jesus da Lapa na verdade eu vejo como ato político. Esses cidadãos exigem o respeito à dignidade humana como consta na constituição federal de 1988, tendo em vista que a cada 28 horas no Brasil se morre um gay simplesmente pela orientação sexual.  Eu acredito que um evento desse é para sensibilizar a população de que também são cidadãos de direito e temos que respeitar independente da orientação sexual de cada um”, afirmou Márcia Araújo, estudante do último semestre de pedagogia da UNEB, que levou sua filha para participar.

O movimento que hoje é conhecido pela sigla LGBT – lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros – e que já foi GLS – gays, lésbicas e simpatizantes – é composto por diversos eventos, promovendo e mostrando o trabalho de seus colaboradores e organizadores ativistas, sempre em busca dos direitos de sua comunidade, direitos estes negados ou desrespeitados por algumas parcelas da sociedade.