Na primeira sessão de março da Câmara de Bom Jesus da Lapa, representações sociais falam da luta das mulheres quilombolas e rurais

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Dentro das atividades voltadas para as mulheres por ocasião do Dia Internacional da Mulher – 08 de março – a Câmara Municipal de Bom Jesus da Lapa recebeu, nesta terça-feira (03/03), na Tribuna Livre da 3ª Reunião Ordinária, Juliana da Silva Vaz da Coordenação da Articulação das Mulheres Quilombolas do Brasil, e Camila Lopes do Sindicatos dos Trabalhadores Rurais.

Juliana convidou o Legislativo e a população em geral para participar da programação da Semana da Mulher, que começou na segunda-feira(02), e segue até o dia 8 de março,  com  atividades no bairro Parque Verde no sábado(7), e no domingo(8), nas localidades quilombolas de Araçá Cariacá e no Rio das Rãs. Ressaltou também que estão sendo feitos trabalhos informativos na cidade e no interior do município para falar da temática das mulheres.

Ela destacou, que se fala muito que a luta das mulheres começou a partir da morte de 130 operárias após um incêndio em uma  fábrica têxtil na cidade de  Nova York em 1911, “no entanto nós sabemos que não, que desde o Século XIX [Revolução Industrial] as mulheres vem lutado para conquistar seus direitos, seu espaço. Lutando a favor de melhores condições de salários e trabalho, e para conquistar seu espaço dentro da sociedade”, destacou.

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Juliana falou da luta das mulheres quilombolas, na perspectiva da “interseccionalidade”[maneira de conceitualizar a interdependência das relações sociais de raça, sexo e classe], já que muita gente fala no contexto de forma homogênea sobre o tema, mas que é preciso entender que existem as especificidades envolvendo as  mulheres que precisam ser consideradas. E na oportunidade ele cobrou dos parlamentares, que quando fossem apresentar algum projeto na Casa direcionados para as mulheres, pensassem nessas especificidades, considerando a realidade e o contexto de cada mulher do município. “Como a mulher camponesa, a mulher quilombola, a mulher agricultora, a mulher que tem que acordar cedo para levar seu filho na escola para tirar leite de vaca […] pensar a mulher em todas as suas especificidades”.

Ela frisou, que atuar enquanto mulher negra nos espaços não tem sido fácil, e lamentou os diversos pronunciamentos feitos pelo presidente da Republica, Jair  Bolsonaro, de ataque aos  povos quilombolas. “A gente tem o chefe da Nação que diz que o meu povo [quilombola] não serve nem para procriar. […] quando ele vai falar de quilombola, ele[presidente] usa o termo arrouba. Termo geralmente usado para tratar de animal. E que não tem que ter o processo de reparação política no Brasil, porque quem já foi escravizado no Brasil já morreu, e não tem mais cheiro”, disse.

Juliana usou o espaço para falar do preconceito que os negros ainda sofrem no Brasil, citando como exemplo os espaços acadêmicos, ao relatar uma experiência vivenciada pela sua irmã, que não conseguiu fazer o curso de arquitetura e urbanismo na Universidade Federal da Bahia-UFBA, porque quando se apresentou como mulher quilombola, mulher negra, a professora dela disse que ela estava no lugar errado. Que quilombola, preta e mulher, até poderia fazer agronomia pra mexer com mato, ou fazer zootecnia para mexer com bicho, agora ser arquiteta e urbanista não. Infelizmente a estrutura dessa sociedade, machista e patriarcal expulsou a minha irmã da UFBA, e ela teve que voltar para o campo e assumir a origem dela, porque ela teve que escolher entre a saúde mental ou a universidade”, lamentou.

E finalizou pedindo para os parlamentares pensarem nas mulheres quilombolas, do campo, levando propostas para o Gestor Municipal, para que todas as mulheres tenham melhorias de vida, e cobrando um auxílio, nem que seja moral, para os jovens que precisam sair para estudar fora de Bom Jesus da Lapa.

Já Camila Lopes, representando o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bom Jesus da Lapa, durante sua participação na tribuna, falou das ações realizadas no município com a proposta de fortalecimento da luta das mulheres, destacando o apoio e a participação da Vereadora Andréia do João Paulo II junto as ações, não como parlamentar, mas como mulher.

Ela frisou sobre o dia a dia  das mulheres rurais, que em todos os momentos lutam contra a fome, contra a pobreza, a violência sexista, reivindicando terra, salário e saúde. Tentando com isso protagonizar um novo processo. E lembrou que desde o ano 2000 tem sido realizada a Marcha das Margaridas, que acontece de quatro em quatro anos em Brasília, e que na última mobilização as representações da cidade que participaram do evento contaram com a colaboração da Câmara de Vereadores.

A representante do Sindicato disse que as mulheres sofrem todo tipo de desigualdade, e que as mulheres rurais e quilombolas, por meio do conhecimento,  começam a debater ações afirmativas, destacando o papel e a importância da mulher. E que no município faltam políticas que ofereçam oportunidades para o sexo feminino, e a Câmara de Vereadores precisa criar projetos que contemplem a realidade das mulheres.

Camila falou ainda de algumas conquistas da mulheres no município, com o Pronaf Mulher, a titulação das terras, tanto dos assentamentos como das áreas quilombolas, tendo como destaque a figura da mulher, que a partir do Governo do PT passaram a ser  titulares de alguns programas do governo, citando como exemplo o Bolsa Família e Garantia Safra.

Durante as falas, os vereadores destacaram a importância da luta e da participação das mulheres, que precisam estar mais presentes nos debates de interesse do município, por meio da política, fazendo parte dos partidos e buscando ocupar uma cadeira no Legislativo.

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