Romaria Espiritual das Mulheres ao Bom Jesus da Lapa, em tempos de Covid-19

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Professora Dra. Sandra Célia Coelho /Foto: arquivo pessoal

Desde que se iniciou esse período de pandemia pelo mundo, especialmente quando se acirrou aqui no Brasil, optou-se, como medida preventiva, pelo isolamento social, com o pedido constante para ficar em casa. Essa pandemia tem me levado a refletir sobre várias coisas, dentre as quais, como estão as mulheres romeiras do Bom Jesus da Lapa. Refiro-me àquelas mulheres romeiras que pela simplicidade do campo, pelo calor escaldante do sertão, pelo baixo nível de escolaridade, pela questão de idade e que muitas vezes na sua casa não tem água encanada, nem luz elétrica, principalmente pela dificuldade de acesso tecnológico, e por uma relação muito próxima com o Bom Jesus da Lapa, correm maiores riscos de contaminação. Como estão fazendo para lidar com o distanciamento do Santuário do Bom Jesus? Da Lapa do Bom Jesus? São tantas perguntas, que diante das questões do momento, a vontade de falar soa mais alto e como um alívio, para mim, que me coloco no lugar dessas mulheres.

Que diante da sua simplicidade de vida, estão ligadas a todo momento à Lapa, como um meio de conexão, para além do tecnológico, que é a fé. Não precisamos contemporizar, o importante no momento é entender e não deixar de fazer diante da necessidade do fortalecimento espiritual, é esse mergulho de se chegar ao Bom Jesus, especialmente a Lapa do Bom Jesus. E como é repensar a romaria em tempo de isolamento social, para essas mulheres que não tem o acesso tecnológico como já disse anteriormente e não sabem lidar.

Algumas tem a televisão, o rádio e um celular da forma bem simples se torna um único elo para ter uma palavra do padre e daquele  representante do Santuário, uma notícia diante de tudo que está acontecendo. Como a quarentena esvazia a Igreja e os fiéis são recomendados a permanecerem em casa, a prática da fé não para. Aquelas que tem acesso aos meios de comunicação, participam de missas, reza de terços e outras práticas piedosas, pela TV, pelo youtube, pelo rádio.

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Na ausência desses meios, não se descarta outras formas de manter viva a fé, com práticas de piedade costumeiras, como reza do terço, novenas, bem como outras orações, que marcam a vida cotidiana das romeiras. Assim, de um jeito ou de outro, mantém-se próximas ao Bom Jesus e se fortalecerem espiritualmente, com outras vias alternativas, que certo modo, permite uma jornada espiritual, como uma nova forma de se fazer romaria e ir ao encontro com o sagrado. Assim, cumpre-se o papel dessa mulher romeira do Bom Jesus em tempo de distanciamento físico, mas cada vez fortalecido e amenizado pela fé, na presença de Bom Jesus.

Esse caminho espiritual para a Lapa do Bom Jesus, se reforça com aquilo que fica registrado na lembrança, na memória, na fotografia, da fitinha do Bom Jesus, que carrega no braço, da imagem do Bom Jesus, que tem na sua casa, e que dá proximidade ao Santuário. Resta no mais, a esperança no coração, na certeza que nas suas orações e na fé, a mulher romeira se fortalece e se faz mais próxima ao Bom Jesus.

A esperança de tempos melhores, se renova nesse período de quarentena, na certeza que novas romarias em breve serão feitas, para agradecer, esse período, agradecer esse momento de poder estar de volta, ao poder de tocar às pedras da gruta, ajoelhar-se a frente do Bom Jesus e agradecer e sempre cantando, “meu Bom Jesus olha eu, eu vim aqui para rezar e uma promessa a pagar”.

Profa Dra Sandra Célia Coelho G. da Silva
Profa Adjunta  – DEDC – Campus XII – Guanambi- Ba
Coordenadora do Mestrado Profissional em Intervenção Educativa e Social – (MPIES/UNEB) – DEDC –  XI – Serrinha
Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação, Religião, Cultura e Saúde (GEPERCS)
Pesquisadora do Centro de Estudos Interdepartamental em Culturas e Religiões (CEPICR)
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Contato:  (77) – 99135-2732