Nenhuma menção à Covid e perguntas sobre a Idade Média: questões do Enem deixam de lado temas em evidência

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Estudantes comparecem ao primeiro dia de Enem 2021 Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo

Nem pandemia de Covid-19, nem ditadura militar, nem enunciados sobre a temática LGBTQIA+ ou mudanças climáticas. Apesar de citar figuras como Chico Buarque e Thomas Piketty, as questões apresentadas aos estudantes na edição de 2021 do Enem deixaram de lado a polêmica e assuntos importantes do noticiário global.

Já no enunciado da redação, sobre “invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”, uma observação gerava curiosidade: pedia-se que a “proposição de resolução do problema respeitasse os direitos humanos”. Se, por um lado, questões sobre o protagonismo indígena e escravidão de negros marcavam a presença de assuntos relacionados às minorias, havia uma questão em que se questionava o fato da mulher ser tratada como minoria, apesar de sua população numerosa.

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Os alunos começaram a deixar os seus locais de prova às 15h30 deste primeiro domingo de exame. Mesmo sem autorização para levarem seus cadernos de questões, os estudantes fizeram dos espaços externos campo de debate entre alunos sobre os assuntos abordados na prova.

Pela segunda vez consecutiva, um tema pouco comum surgiu entre as questões do Enem: a Idade Média. Uma pergunta foi a respeito dos incêndios ocorridos no período; outra sobre São Francisco de Assis. Antes do governo Bolsonaro, seria incomum aparecer algo sobre tal período da história. As mudanças climáticas, por sua vez, que vêm mobilizando governos de vários países e gerado críticas globais à política ambiental de Bolsonaro, ficaram de fora. Ano passado, mesmo sem a realização da COP-26, havia várias questões sobre o assunto.

– Achei a prova de um nível geral médio, com poucas questões de nível difícil. Alguns temas a gente já esperava, como questões ambientais, como por exemplo do uso da água, capitalismo e divisão internacional do trabalho, indústria e modelos de produção, espaço urbano e espaço agrário. Por outro lado, não havia nada relacionado à pandemia e nada de geopolítica internacional, como Oriente Médio. E não caiu nenhuma questão de clima, um conteúdo que costuma aparecer e era muito esperado para este ano – diz Rodrigo Magalhaes, professor de Geografia da Plataforma AZ.

Em meio à crise do Inep e às manifestações de Jair Bolsonaro sobre conteúdo do Enem com a “cara do governo”, existia a expectativa sobre como a ditadura militar poderia ser abordada na prova. Segundo integrantes do governo, o presidente teria inclusive pedido ao ministro da Educação, Milton Ribeiro, que fosse usado o termo “revolução” em alusão ao período. Entretanto, a ditadura acabou sendo deixada de lado nas questões de história, e foi tema apenas de uma pergunta.

– A prova foi parecida com os dois últimos anos, porque não cobrou muito história contemporânea, foi mais focada em história medieval e moderna. Caiu apenas uma questão sobre contexto durante a ditadura civil-militar , mas era uma questão não muito politizada, nem crítica à ditadura — afirmou Roberta Luz, professora de história da Plataforma AZ. – Não achei difícil (a prova), achei mais cansativa. Muitas questões sobre memória e patrimônio, e vocabulário difícil em alguns enunciados. Via O Globo