Em vídeo, secretário da Cultura parafraseia Goebbels e provoca revolta

0
GrupoSCosta-350x250px

Em vídeo no qual anuncia o Prêmio Nacional das Artes, o secretário de Cultura, Roberto Alvim, ao som de Wagner, cita textualmente trechos de um discurso do ideólogo nazista Joseph Goebbels. “A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”, diz Alvim no vídeo.

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”, disse Goebbels em pronunciamento para diretores de teatro, de acordo com o livro Goebbels: a Biography, de Peter Longerich.

BahiaFArmShow-350x250px

O texto lido por Alvim em tom solene e pausado é bem mais longo, com outros trechos claramente inspirados pela ideia copiada de Goebbels. A peça de Wagner escolhida por secretário é um trecho da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, que Hitler disse sua autobiografia ter tido importância capital em sua vida.

Em sua longa fala, Alvim diz que a cultura sob Bolsonaro terá inspiração nacional, religiosa. “Trata-se de um marco histórico nas artes brasileiras”, diz ele, sobre o prêmio. “2020 será o ano de uma virada histórica. 2020 será o ano do renascimento da arte e da cultura do Brasil”, encerra.

‘Coincidência retórica’

Após a repercussão negativa da sua fala, Alvim, fez uma nota de esclarecimento em sua conta no Facebook acerca do discurso. Ele disse que a “esquerda” está fazendo uma “falácia de associação remota” entre sua fala e o ideólogo do nazismo. Omite o fato de que recebeu críticas de seu guru, Olavo de Carvalho, e de outros expoentes da ala olavista da cultura.

“Com uma coincidência retórica em UMA frase sobre nacionalismo em arte, estão tentando desacreditar todo o PRÊMIO NACIONAL DAS ARTES, que vai redefinir a Cultura brasileira. É típico dessa corja”, escreve Roberto Alvim em seu post.

“Repito: foi apenas uma frase do meu discurso na qual havia uma coincidência retórica. Eu não citei ninguém. E o trecho fala de uma arte heroica e profundamente vinculada às aspirações do povo brasileiro. Não há nada de errado com a frase. Todo o discurso foi baseado num ideal nacionalista para a Arte brasileira, e houve uma coincidência com UMA frase de um discurso de Goebbels. Não o citei e JAMAIS o faria”, afirmou.

No final da mensagem, porém, o secretário elogia a ideia de Goebbels: “mas a frase em si é perfeita: heroísmo e aspirações do povo é o que queremos ver na Arte nacional”.

Veja o discurso do ministro:

Parte do discurso do ministro na qual ele descreve a guinada conservadora na Cultura:

“Olá, meus amigos, eu sou Roberto Alvim, secretário especial da Cultura do governo do presidente Jair Bolsonaro. Eu venho falar a vocês sobre um assunto muito importante. Quando eu assumi esse cargo em novembro de 2019, o presidente me fez um pedido. Ele pediu que eu faça uma cultura que não destrua, mas que salve a nossa juventude.

A Cultura é a base da Pátria. Quando a Cultura adoece, o povo adoece junto. É por isso que queremos uma cultura dinâmica, mas ao mesmo tempo enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes. A Pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus amparam nossas ações na criação de políticas públicas. 

As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal serão alçados ao território sagrado das obras de arte.

Nossos valores culturais também conferem grande importância à harmonia dos brasileiro com sua terra e sua natureza, assim como enfatizam a elevação da nação e do povo acima de mesquinhos interesses particulares.
A cultura não pode ficar alheia às imensas transformações intelectuais e políticas que estamos vivendo. 


A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional; será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo, ou então não será nada.

Ao país a que servimos só interessa uma arte que cria sua a própria qualidade a partir da nacionalidade plena, e que tem significado constitutivo para o povo para o qual é criada.

Portanto, almejamos uma nova arte nacional, capaz de encarnar simbolicamente os anseios desta imensa maioria da população brasileira, com artistas dotados de sensibilidade e formação intelectual, capazes de olhar fundo e perceber os movimentos que brotam do coração do Brasil, transformando-os em poderosas formas estéticas.

São estas formas estéticas, geradas por uma arte nacional que agora começará a se desenhar que terão o poder de nos conferir, a todos, a energia e impulso para avançarmos na direção da construção de uma nova e pujante civilização brasileira”. 

Estadão conteúdo.